WASHINGTON - A Venezuela está vivendo um dos piores ciclos econômicos de sua história , com a severa retração em 2014 , de 4% , se aprofundando este ano, quando o Produto Interno Bruto (PIB) decerá registrar contração de 7% , segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacionl (FMI).. Os desequilíbrios acumulados na última década serão acentuados severamente pela rápida e significativa queda da cotação do barril de petróleo, commodity em torno da qual a economia venezuelana gira. O organismo multilateral espera graves consequências sociais, como nova crise de desabastecimento.
- Uma queda de 4% já é expressiva, mas se depois dela você ainda registra uma retração de 7%, esta é uma situação econômica extrema, com consequências sociais. O desabastecimento certamente será ampliado e haverá muitas implicações importantes _ avalia o diretor de Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner.
A Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, é extremamente dependente das receitas de exportação da commodity. Cada 10% de queda do preço do petróleo afeta a balança comercial do país no equivalente a 3,5% do PIB. O FMI, na sua projeção para 2015, assumiu que, diante da queda de mais de 50% da cotação, a draga será equivalente a pelo menos 10% do PIB.
- As perdas de receitas de exportação vão acentuar os problemas fiscais e deprimir ainda mais a economia. O setor produtivo está sofrendo muito _ explica Werner, acrescentando que a capacidade instalada da indústria já está abaixo de 50% e as vendas das montadoras, por exemplo, recuaram 80%.
O diretor lembra que há muitos anos Caracas não mantém diálogo sobre política econômica com o FMI, o que torna muito difícil para o corpo técnico do organismo multilateral antecipar decisões do governo de Nicolás Maduro. Assim, a expectativa do Fundo é muito pessimista, de endurecimento da situação.
Para a América Latina, as consequências do declínio venezuelano não serão robustas, diz Werner. Segundo ele, como vem se deteriorando já há alguns anos, a situação foi paulatinamente assimilada pelos principais parceiros comerciais e investidores, grupo do qual o Brasil faz parte.
As regiões que podem sentir mais fortemente as consequências são a América Central e o Caribe, nas quais 13 nações recebem subsídios pesados de Caracas para importação de petróleo, por intermédio do programa PetroCaribe.
- Poderá ser um choque negativo se a Venezuela se vir obrigada a fazer um ajuste no PetroCaribe. Mas, por ora, este risco, não materializado, está sendo mitigado pela queda dos preços do petróleo, que reduz o gasto com importação e alivia a pressão sobre as contas externas - explica Werner.
Outro foco de preocupação na América do Sul é a Argentina, onde o quadro é perturbado pelos desequilíbrios macroeconômicos, resultados de políticas monetária e fiscal errantes e controles de preços impostos por Buenos Aires nos últimos anos. A indústria vem de 11 meses de queda em 2014, bem como as vendas do comércio.
A construção civil também apresenta números negativos. A pá de cal é a piora do ambiente externo, que deve limitar as exportações. Como consequência, a Argentina deverá ter novo ano de recessão (-1,3%), após contração estimada de 0,4% em 2014.
- O que estamos vendo na economia argentina é que muitos setores importantes já vêm de retração, carregando este resultado para 2015, quando o cenário externo será desfavorável às exportações. Isso prolongará o quadro negativo do setor produtivo. E o governo não tem capacidade de gerar financiamento para o déficit externo _ diz o diretor do FMI.
A América do Sul verá os investimentos encolherem em 2015, fechando um período de cinco anos de desaceleração dos desembolsos estatais e do setor produtivo que fazem girar as economias, afirma o FMI. Esta é uma trava adicional ao crescimento sul-americano, afetado ainda pela redução sistemática dos preços das commodities metálicas e agrícolas, o fraco desempenho global, a perspectiva de alta dos juros dos EUA e desequilíbrios internos dos países.
No Chile, por exemplo, as perspectivas para os investimentos estão sendo ofuscadas por incertezas relativas às reformas implementadas e propostas pela presidente Michelle Bachelet. No Peru, o enfraquecimento das exportações tem sido um baque no ânimo dos investidores. Já o petróleo barato terá impacto sobre o crescimento de Bolívia, Colômbia e Equador, mas o quadro macroeconômico é mais favorável, permitindo absorção dos choques.
O México é, entre as grandes economias, a de perspectiva mais positiva, com expansão projetada de 3,2% este ano, na carona da forte recuperação dos EUA e o efeito positivo _ até agora represado _ das reformas fiscal e dos setores de telecomunicações e energia.
Para o diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental, a América Latina _ que deverá apresentar expansão de apenas 1,3% em 2015 _ não tem outro caminho a não ser agir rapidamente para retomar o crescimento.
- O atual panorama difícil enfatiza a urgência de reformas do lado da oferta (redução de gargalos, reformas estruturais). Impulsionar as perspectivas de crescimento e manter a redução da pobreza num ambiente externo mais desafiador demandará determinação nos esforços para melhorar o ambiente empresarial, elevar a produtividade e aumentar poupança e investimento _ afirmou Werner.
Fonte: O Globo 22/01/2015 e GS Noticias CSB .