Os cinco grandes bancos da China poderão ter o pior crescimento de seus lucros anuais desde pelo menos 2004, depois que os resultados do primeiro trimestre mostraram um aumento dos empréstimos ruins em uma economia em dificuldades. O Banco Industrial & Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês) informou na semana passada, em um comunicado às autoridades reguladoras chinesas, um crescimento de 21 bilhões de yuans (US$ 3,4 bilhões) nos créditos podres nos primeiros três meses do ano, a maior alta desde pelo menos 2008. O ICBC, o Banco para a Construção da China (CCB), o Banco Agrícola da China, o Banco da China (sem relação com o banco central) e o Banco das Comunicações anunciaram ao longo da semana um crescimento dos lucros de menos de 2%, sendo que no mesmo período do ano passado a média foi de cerca de 10%. "Temos um começo fraco e o crescimento dos lucros poderá ficar ainda pior no segundo semestre", diz Chen Shujin, uma analista da DBS Vickers Hong Kong. O começo de um sistema de seguro de depósitos em maio contribuirá para os custos dos bancos, acrescenta ela. Os empréstimos vencidos e não pagos do ICBC, Banco para a Construção, Banco da China e Banco das Comunicações tiveram a maior alta em pelo menos sete anos no primeiro trimestre. Os maiores bancos chineses poderão ter de levantar mais capital este ano por causa do crescimento dos empréstimos ruins e das exigências reguladoras mais rígidas. Francis Chan, um analista da Bloomberg Intelligence em Hong Kong, cita o exemplo o Banco Agrícola, que já aumentou seu capital de nível 1 em 8,9% no primeiro trimestre, para 1,1 trilhão de yuans. A economia da China deverá ter este ano o menor crescimento desde 1990 e os bancos enfrentam uma maior concorrência por recursos, na medida em que o governo desregulamenta o setor financeiro. O crescimento combinado dos lucros dos cinco maiores bancos do país poderá cair para 4,6% em 2015, o menor em pelo menos 12 anos, segundo estimativas de analistas. As ações bancárias subiram na quinta-feira em meio a uma alta geral das ações chinesas, ajudando o ICBC a tomar do americano Wells Fargo o posto de banco mais valioso do mundo. Ao mesmo tempo, os bancos chineses continuam sendo os mais baratos do mundo, sendo negociados a cerca de 7,7 vezes os lucros estimados para 2015, a menor relação para bancos com valor de mercado de mais de US$ 10 bilhões, segundo mostram dados compilados pela "Bloomberg". Uma queda do mercado imobiliário e os esforços do governo para conter o sistema bancário paralelo estão tornando mais difícil para o primeiro-ministro Li Keqiang sustentar o ritmo de crescimento da economia. A China relaxou os controles sobre a compra de moradias e injetou pelo menos 1,5 trilhão de yuan de liquidez nos bancos por meio de cortes na relação de reservas, enquanto o governo tenta limitar a desaceleração econômica. "Persiste a tendência de desaceleração do crescimento dos lucros dos bancos, ao mesmo tempo em que a qualidade dos ativos continuará piorando", diz Richard Cao, analista da Guotai Junan Securities HK em Shenzhen. "Um possível aspecto positivo para o setor bancário" serão os esforços para aumentar o controle privado dos bancos, afirma Cao. O IBCC e o Banco Agrícola aumentaram em cerca de 50% suas provisões para potenciais perdas com empréstimos no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o Banco para a Construção da China reforçou essas provisões em 81%. No Banco da China, as provisões caíram 9%, enquanto que no Banco das Comunicações houve pouca mudança. Embora os empréstimos ruins estejam aumentando, eles ainda respondem por menos de 2% do crédito total dos bancos, em comparação a quase 20% em 2004. A Standard & Poors alertou em 15 de abril que poderá ser um ano mais duro para os bancos com o aumento dos problemas relacionados a empréstimos concedidos a médias e grandes empresas. Como prova disso, a Baoding Tianwei Group tornou-se recentemente a primeira companhia estatal chinesa a dar calote em um bônus lançado no mercado interno, deixando de pagar 85,5 milhões de yuans em juros.
Fonte: Valor Online- Segunda feira, 04 de maio de 2015.
