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Juro alto no Brasil amortece efeito de reviravoltas na Grécia

A Grécia se tornou na terça-feira a primeira economia desenvolvida a dar o calote no Fundo Monetário Internacional (FMI) ao não honrar um pagamento de ? 1,6 bilhão. Para o chefe de estratégia de emergentes e de estratégia global de moedas do RBC Capital Markets, Daniel Tenengauzer, mesmo com o "default", as chances de a Grécia sair da zona do euro são pequenas, com os investidores apostando em um acordo do governo com o Eurogrupo, que reúne os ministros de Finanças da zona do euro. Para Tenengauzer, um agravamento da situação da Grécia pode levar ao aumento da aversão a risco e impactar as moedas emergentes. Mas no caso do Brasil, a alta taxa de juros tende a amortecer esses efeitos.

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor.

Valor: Qual o risco de a Grécia sair da zona do euro?

Daniel Tenengauzer: Se a população grega decidir por um "sim" [a um novo pacote de austeridade em troca de um novo programa de ajuda financeira] no referendo que será realizado no próximo domingo [5 de julho], significa que o povo grego aceitaria o corte de salários em troca do país continuar na zona do euro. Se a decisão for pelo "não", ainda assim uma saída da Grécia da zona do euro é improvável. Nesse caso, o governo grego deve voltar a negociar com as instituições credoras, com grandes chances do governo atual cair, uma vez que enfrentará uma situação mais difícil com o corte das linhas de liquidez para os bancos gregos por parte do European Financial Stability Facility (EFSF) [o fundo de resgate da zona do euro]. Nesse cenário, deve ser criada uma moeda paralela, que seria depositada nos bancos para o pagamento dos trabalhadores do setor público. Essa moeda já embutiria uma desvalorização cambial que, na prática, representaria um corte dos salários dos servidores públicos. O mercado trabalha com a probabilidade do "sim" vencer no referendo, o que implicaria na convocação de novas eleições, pois o governo atual tem mostrado uma postura contra a adoção dessas medidas.

Valor: Qual seria o impacto para os mercados de uma saída da Grécia da zona do euro?

Tenengauzer: Um cenário de saída da Grécia da zona do euro representa um risco sistêmico e os mercados reagem a um evento sistêmico. No entanto, a probabilidade de uma saída da Grécia da zona do euro é muito pequena. O não pagamento ao FMI é um evento negativo, mas isso e uma saída da Grécia da zona do euro são coisas completamente diferentes. É claro que o mercado deve reagir a cada passo do governo grego na negociação com as instituições da zona do euro. Mas o euro é um casamento de muitos anos. Uma saída da Grécia da zona do euro seria uma volta dramática a uma progressão da União Europeia.

Valor: Qual o risco de contágio da situação da Grécia para outros países como Espanha e Itália?

Tenengauzer: Estamos vendo nesta semana maior estresse nos mercados de renda fixa europeus, especialmente no da Itália, cujas taxas dos bônus soberanos estão quase duas vezes mais altas em relação a março. A possibilidade de um calote da Grécia já estava em grande parte nos preços. O que aconteceu até agora é suficiente para ter impacto na confiança não só do investidor, mas também do empreendedor europeu. E isso pode atrapalhar a recuperação da economia da zona do euro e levar o Banco Central Europeu (BCE) a aumentar as compras do programa de aquisição de ativos para dar um suporte a esses países, o que poderia trazer um alívio para os mercados emergentes.

Valor: Qual o impacto para as moedas emergentes com a vitória do "não no referendo da Grécia no domingo? Quais as moedas seriam mais vulneráveis nesse cenário?

Tenengauzer: Um "não" no referendo aumenta o risco para as moedas emergentes enquanto um "sim" seria um cenário mais positivo para essas divisas. Na América Latina, a moeda que está no foco [mais vulnerável] é o peso mexicano. O Brasil está praticamente isolado desse problema e o cenário local pesa muito mais. A elevada taxa básica de juros no Brasil, de 13,75%, ajuda a limitar esse efeito. A taxa de juros é tão alta que acaba compensando os riscos, levando os investidores a não olharem tanto para os fundamentos.

Valor: Um agravamento da crise na Grécia poderia levar o Federal Reserve (Fed, BC americano) a adiar a alta dos juros nos EUA?

Tenengauzer: A história da Grécia só poderia influenciar a política monetária americana se houvesse uma saída do país da zona do euro, o que não é o nosso cenário. A economia americana está indo na direção de o Fed subir a taxa de juros. Para a autoridade monetária americana não subir a taxa de juros em setembro ela terá que ter uma justificativa muito boa, porque não é o que está indicando.

Valor: Quais são as maiores preocupações em relação ao Brasil?

Tenengauzer: O déficit em conta corrente, apesar de alto, parece estar melhorando um pouco por causa da queda das importações. O que mais me preocupa agora é a parte fiscal. Estamos vendo um aumento do hiato do produto e o mercado de trabalho vai piorar de forma progressiva. O impacto social disso é preocupante e pode trazer instabilidade pela incerteza sobre o que vai acontecer. O que mantém o país relativamente estável é o fato de o mercado de trabalho não estar piorando muito rapidamente. Mas uma deterioração mais forte desse quadro nos próximos três a quatro meses poderia gerar um crise política. Não acho que o risco é de o governo cair, mas podemos ter uma transição política já para as próximas eleições. A minha preocupação é com um "downgrade" [rebaixamento] do rating soberano do Brasil. Acho que a probabilidade hoje de o país perder o grau de investimento no ano que vem é de 50%. O resultado fiscal continua piorando e o BC continua arrochando a política monetária.

Valor: Qual a perspectiva para o real e para os juros no Brasil?

Tenengauzer: Na parte de política monetária, acho que o BC deve subir a Selic em mais 0,50 ponto percentual em julho, com um aumento adicional de 0,25 ponto em setembro, encerrando o ano em 14,5%. Até lá, a atividade deve estar tão fraca que o mercado vai passar a apostar em corte imediato da taxa de juros logo após o encerramento do ciclo de aperto monetário. Nesse cenário, acredito que o real vá se enfraquecer com o câmbio a R$ 3,30 em setembro e a R$ 3,50 no início do ano que vem.

Valor: O BC teria espaço para seguir reduzindo a rolagem de contratos de swap cambial em um cenário de piora da crise na Grécia?

Tenengauzer: Acho que o BC deveria reduzir cada vez mais a rolagem dos contratos de swap que estão vencendo até chegar no fim do ano com um estoque entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões nesses derivativos cambiais [comparado ao estoque atual de US$ 110,819 bilhões]. Mesmo em um cenário de piora da crise na Grécia, o BC tem espaço para reduzir a rolagem. Cortá-la agora dá munição ao BC para usar lá frente caso a volatilidade nos mercados volte quando o Fed começar a subir os juros.

Fonte:  Valor Online - Quinta feira, 02 de julho de 2015.


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