O comportamento mais benigno dos alimentos, a deflação de passagens aéreas e o impacto menor do reajuste de jogos lotéricos devem ter moderado a inflação na primeira quinzena de julho, avaliam economistas, mesmo com importantes correções de tarifas de eletricidade no período. Segundo a estimativa média de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou de 0,99% em junho para 0,61% neste mês.
As projeções para a prévia da inflação oficial, a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de alta de 0,52% a 0,67%. Apesar da perda de fôlego na passagem mensal, o índice acumulado em 12 meses deve continuar em trajetória de escalada, ao subir de 8,80% em junho a 9,27% no mês seguinte.
Leonardo Costa França, da Rosenberg Associados, afirma que os alimentos devem ter ajudado o recuo do IPCA-15, projetado em 0,52%, mas ficaram em nível elevado para o padrão de julho. Em seus cálculos, o grupo alimentação e bebidas subiu 0,82% neste mês, ante 1,21% na medição anterior. Itens in natura estão avançando menos, assim como as carnes, afirma França, mas há poucos preços em deflação. Por enquanto, ainda não está claro qual o motivo da resistência dos alimentos, mas é certo que há um choque de oferta, diz ele.
Para o Itaú Unibanco, a parte de alimentos e bebidas ainda representou a segunda maior contribuição positiva à prévia da inflação deste mês, com impacto de 0,14 ponto percentual no IPCA-15, atrás apenas do efeito estimado para preços de habitação (0,2 ponto). Já a parte de despesas pessoais deve ter adicionado 0,11 ponto ao índice que, de acordo com o Itaú, subiu 0,64%.
Segundo França, esse grupo cedeu de 1,79% em junho para 1,18% em julho, puxado principalmente pelos jogos de azar, que aumentaram 37,77% na leitura do mês passado e, agora, devem ter cedido para 16,5%. O analista explica que o efeito sobre a inflação do reajuste médio de quase 40% na loterias da Caixa, efetuado no fim de maio, já está se dissipando.
O setor de transportes também foi importante vetor de desaceleração no mês, ao recuar 0,49%, observa o economista, devido à retração de 24% apontada pelas passagens aéreas nas coletas. Além disso, os preços de combustíveis também seguiram bem comportados, diz ele, que trabalha com queda de 2,1% do etanol e de 0,15% da gasolina na prévia da inflação de julho.
Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, afirma que a descompressão nos segmentos de vestuário e saúde também foi crucial para a perda de ímpeto do IPCA-15, que avançou 0,63% em suas projeções. Por outro lado, diz, o aumento de 17% das contas de luz para clientes residenciais da Eletropaulo deve ter pressionado os preços de habitação.
De forma geral, Velho comenta que a prévia da inflação de julho deve ficar acima do padrão sazonal. Em sua avaliação, um índice significativamente mais alto do que o previsto pelo mercado - que, para o economista, seria algo superior a 0,66% - elevaria a probabilidade de que o ritmo de aumento da taxa Selic fosse mantido em 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom.
Fonte: Valor Online - Terça feira, 21 de julho de 2015.
