O dólar e os juros dispararam e a Bolsa caiu nesta quinta (23) após o governo admitir que pode ter deficit nas contas públicas em 2015.
Diante do fracasso do governo em reequilibrar as contas públicas, por causa da queda na arrecadação deste ano, caiu a confiança na retomada da economia do país.
Entre as moedas emergentes, o real foi a de maior desvalorização. O dólar à vista (mercado financeiro) subiu 1,91% e foi a R$ 3,288, o maior patamar desde 19 de março. Já o comercial avançou 2,16%, para R$ 3,296, o mesmo valor de 19 de março. A Bolsa zerou os ganhos em 2015 e já tem baixa de 0,4%. No dia, o Ibovespa recuou 2,18% para 49.806 pontos.
Além disso, com a perspectiva de que a dívida pública aumente, o Brasil corre risco de perder o chamado grau de investimento -selo de bom pagador, obtido em 2008, quando o país entrou na rota dos grandes investidores.
A leitura é que o país terá de conviver com juros elevados por um período mais longo, apesar do impacto da recessão no controle de preços. Até então, a visão corrente era que o país poderia reduzir os juros, gradualmente, a partir de 2016 até chegar a uma taxa próxima de 12% no início da próxima década.
Os juros negociados para janeiro de 2016, que refletem o que ocorrerá até o final deste ano, saltaram de 13,96% para 14,10%, sugerindo que aumentou a possibilidade de mais duas elevações de 0,25 ponto nos juros do governo (Selic), hoje em 13,75%.
Até a semana passada, uma parte significativa do mercado via preços controlados em 2016 e acreditava que tinha terminado o atual ciclo de aumento de juros (alguns falavam em queda dos juros no início de 2016). Outra parte esperava só mais uma alta de 0,25% neste ano.
O maior estrago ocorreu nos juros de prazos médio e longo. Para janeiro de 2019, primeiro ano do novo governo, os juros saltaram de 12,58% para 13,07%, indicando que o governo Dilma terá de conviver com juros acima de 13% até o fim do mandato. Para janeiro de 2025, que reflete a previsão dos juros em dez anos, a taxa saltou de 12,45% para 13,03%.
"Os juros maiores refletem o risco de uma estagflação [inflação sem crescimento] prolongada. É o cenário em que a indústria reduz a produção, mas aumenta preço para manter sua margem de ganho. Cobra mais de poucos consumidores", disse Paulo Eduardo Gomes, analista da AZ Futurainvest.
"Foi um choque de realidade sobre a situação das contas do governo. Talvez o país não perca o grau de investimento neste ano, mas é questão de tempo", disse Newton Rosa, economista da SulAmércica Investimentos.
Fonte: Folha de S. Paulo Online - Sexta feira, 24 de julho de 2015.