A greve dos petroleiros, que caminha para um desfecho nesta semana, pode comprometer a meta de produção nacional de petróleo da Petrobras em 2015. De acordo com cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), considerando uma queda de 5% da produção da companhia em novembro, a estatal precisaria aumentar o resultado em 12% em dezembro, para alcançar a meta de 2,125 milhões de barris diários no ano, com alta de 4,5% em relação a 2014.
"A greve já dura 17 dias [em relação à paralisação da Federação Única dos Petroleiros (FUP)], com uma queda de produção em torno de 5%. Considerando esse valor no mês, isso compromete bem [a meta]. Dezembro vai ter de compensar muito", disse o diretor do CBIE, Adriano Pires.
A Petrobras tem informado oficialmente que a queda de produção por causa da greve está mantida estável, em 5%. O percentual está em linha com o divulgado pela FUP, de redução de produção de cerca de 100 mil barris diários.
Segundo Pires, mesmo que a Petrobras recupere a produção nas últimas semanas de novembro, dificilmente será possível sustentar a meta. Considerando uma queda de 3% da produção em novembro, a petroleira teria que aumentar em 7% a produção em dezembro, para alcançar a meta deste ano.
Ao Valor, a Petrobras informou, em nota, que "segue empenhando todos os esforços para mitigar as perdas por efeito do movimento grevista, objetivando a manutenção de suas metas".
A produção de petróleo da companhia em outubro foi de 2,1 milhões de barris diários, com alta de 2,1%, ante setembro. Pires, porém, lembra que a produção em setembro recuou 6,7%.
No acumulado do ano até outubro, a produção média da Petrobras está em 2,128 milhões de barris diários, 4,6% superior ao apurado em 2014, portanto acima da meta para este ano, até agora.
Considerando, porém, uma queda de 5% da produção em novembro, devido à greve, o número deste mês seria de 1,995,5 milhão de barris diários, o que puxaria a média do ano para 2,116 milhões de barris diários, ou 4,03% maior que 2014, ficando abaixo da meta.
Se a produção cair 3% em novembro, o número do mês ficará em 2,04 milhões de barris/dia. Assim, a média do ano até novembro será de 2,12 milhões de barris/dia, ou 4,2% superior ao registrado em 2014, ainda abaixo da meta.
Para Bruno Piagentini, analista para o setor petróleo da Coinvalores, porém, a queda da produção em novembro será "irrisória" e não deverá comprometer a meta de 2015. "O que estava nos preocupando era o cenário de continuidade da greve por um tempo prolongado, junto com a greve dos caminhoneiros, que poderia ter impacto no abastecimento de combustíveis, o que não deve mais ocorrer", explicou.
Sobre a produção da Petrobras em outubro, Piagentini disse que o número veio dentro do esperado. "A empresa vai entregar [a produção esperada]. A questão principal da Petrobras é como se dará o crescimento da produção em relação à redução da alavancagem", disse.
Com relação à greve, o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), que atua na Bacia de Campos, responsável por 65% da produção petrolífera do país, realizará até o fim da semana nova assembleia para deliberar sobre a suspensão da paralisação.
Ontem, o Sindipetro de Minas Gerais aprovou a suspensão da greve. No sindicato do Espírito Santo, a reunião será concluída hoje, mas as bases do norte capixaba já aprovaram o fim da paralisação. Os outros dez sindicatos ligados à FUP já interromperam a greve.
Segundo Deyvid Bacelar, representante dos funcionários no conselho de administração da Petrobras, a companhia aceitou rever a posição inicial, de descontar 50% do salário dos funcionários referentes aos dias não trabalhados. Ele acrescentou que ficou acertado entre as partes que, após a assinatura do acordo coletivo, sindicalistas e empresa discutirão o tratamento que será dado aos dias de paralisação.
Já nos cinco sindicatos da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), de menor porte, porém mais radical, a greve continua.
19/11/2015 - Fonte: Valor Online