Companhia passa a usar norma contábil que pode amenizar queda no lucro da empresa do segundo trimestre
Pressionada pela escalada do dólar, a Petrobras anunciou na noite de ontem uma nova forma de contabilizar o impacto do câmbio em seu balanço, o que pode, na prática, amenizar uma queda no lucro da empresa no segundo trimestre. Em comunicado, a empresa disse que, desde maio, passou a aplicar em seus resultados uma norma contábil que permite que o aumento em reais de sua dívida em moeda estrangeira - o que ocorre quando o dólar se valoriza - tenha seu impacto compensando pela receita futura, também em moeda estrangeira, com exportação de petróleo.
Na nota, a Petrobras informou que "70% da dívida líquida" será protegida "por 20% das exportação, por sete anos". E acrescentou que a medida "permite que os resultados contábeis sejam melhor alinhados à sua realidade econômica e operacional".
Em junho, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu que o dólar em alta não é bom para a companhia, por causa da dívida em moeda estrangeira. Esta semana, Graça disse que a estatal "tem caixa" para buscar mais do que 30% de participação em Libra, no primeiro leilão do pré-sal.
Para o professor de ciências contábeis da USP Eliseu Martins, a mudança, que faz parte da chamada "contabilidade de hedge" ( hedge accounting , em inglês), seria um avanço.
- A dívida em moeda estrangeira pode produzir uma abrupta perda ou lucro no balanço das empresas. Os resultados ficam instáveis - disse Martins. - Mas isso precisa ser bem feito. A Petrobras não pode prever que vai ter uma exportação e voltar atrás.
A diretora da Anefac, Maria Helena Pettersson, diz que o mecanismo usado pela Petrobras, de vincular variações cambiais de exportações a dívidas em moeda estrangeira, seria inédito:
- Isso pode evitar que o prejuízo suba muito. E chama a atenção como a Petrobras conectou recebíveis a essas dívidas. É comum a contabilidade de hedge , mas a forma como ela utilizou é inédita e precisamos de detalhes para entender como foi feita - disse Maria Helena.
Segundo Ivan Nacsa, sócio do Grupo FBM, especializado em contabilidade de hedge , a Petrobras evita ter que recorrer a operações de proteção na BM&F:
- Esse tipo de operação é cara, mesmo para alguém do porte da Petrobras
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